Eu tava aqui, lendo revistas de decoração, em busca de pautas. Algumas fotos são bastante tentadoras. Casas grandes, com jardins, mobiliários personalizados, alguns pura sofisticação. Na publicação anterior que eu trabalhei, fiz matéria sobre a decoração de uma casa de gente "ryckah". A casa era “um brinco”, como diria a minha mãe. E, antes de tirar algumas fotos, fiquei me perguntando se lá eram criadas crianças.
Era tudo muito arrumado, nem na porta de correr espelhada havia manchas de mãos. Os livros de arte ficavam emparelhados em estantes ou em aparadores, certamente aguardando leitura, o que denotava que nenhuma mão os tivesse folheado. Durante a sessão de fotos, duas crianças apareceram. Era um menino e uma menina. Ele mais velho que ela, e ela mais danada que ele; porém os dois comportados, deu pra entender? Eu entendi.
Aliás, lembrei. A minha casa anterior era grande, sem comparação a atual. Detalhe que nos mudamos para essa, exatamente, porque a casa grande o era para apenas duas pessoas – eu e a minha mãe. Embora sempre tivesse sido o sonho (realizado e desmoronado) da minha mãe ter uma casa grande, ninguém a aproveitava como podia.
Em alguns momentos, eu ia pro terraço e sentava no piso para saber qual era a sensação de estar sentada ali. Então, eu olhava pra lateral, via tudo de todos os ângulos e sentia como se o espaço fosse novo, recentemente desvendado. Era gostosa a sensação. Mas voltar a tê-la era difícil, porque nos entretínhamos na sala de TV ou no quarto de frente pro computador.
E, hoje, na casa mini, somente para o quintal eu não dispenso atenção. Ele é bagunçado por velharias entulhadas. Talvez, eu pudesse sentar na mureta do tanque e perceber os diferentes ângulos pelos quais o sol bate na água, mas não o faço. Mesmo assim, eu ganho daquelas crianças, que vi entre sorrisos no parapeito do segundo andar, com acesso aos quartos, e que não aproveitam a sua ampla e sofisticada casa; assim como os pais que têm tanto espaço de sobra para esticar as pernas, e nem lembram que existe aquela linda poltrona de modelo provençal no hall de entrada.