on quinta-feira, 6 de agosto de 2009 | 2 cousas
"Até a lua se arrisca num palpite, que o nosso amor existe, forte ou fraco, alegre ou triste."
[na voz de Elis Regina]

Com poucos compartilhei e com esses poucos só compartilhei mesmo porque eu estava me sentindo sozinha e desesperada. Mas, nos últimos dois meses, eu não sofri mais do que a minha própria mãe. "Se não morre jovem, de velho é que não passa". Pois bem, para alguém que é jovem, uma frase como essa pode soar como premonição óbvia. Contudo, para uma "pessoa de idade" essa frase é mais que uma penitência. Para a minha mãe, de quase setenta anos, a descoberta da concretude dessa frase se deu ao diagnosticarem, prévia, irresponsável e erroneamente, que ela estava com "aquela doença que não dizemos o nome".

Ao descobrir isso, chorei tanto, como eu jamais chorei em toda a minha vida e nunca na frente dela, mesmo sabendo que ela sim desabava em prantos somente pela consciência da maior probabilidade de deixar a sua caçula sozinha no mundo. Não acho que fui perfeita, mas ensaiei bastante a minha força e até a convenci a fazer uma aposta de que os exames finais seriam contrários ao que primeiramente foi diagnosticado, o que nos fez seguir os dias como se nenhuma expectativa nos envolvesse. E, por um momento, eu senti como se tivesse desafiando a Deus e não à ciência médica. Já para a minha mãe, isso pareceu mais um ato de fé, do que de desafio, que fez abrilhantar vários sorrisos de esperança no seu rosto cansado e cheio de rugas.

Num impulso de zelo, de maternidade e de preocupação pela sua ida, a minha madre passou a deixar tudo em ordem para a minha estadia que seria solitária. Na minha notável impotência, aceitei a demonstração de amor por total egoísmo. O meu medo de estar sem ela para resolver até aquilo, que eu - na minha 'adultice' - juro que sei resolver, era o indício da minha total dependência. Dependência da mão forte e segura, do carinho sincero e incondicional.

Essa noção, por vezes disperdiçada em discussões que nunca acrescentaram e pela priorização de outros objetivos e de outras pessoas, me fez querer estar mais perto dela, me ensinou a contar até um bilhão para ter calma com as "teimosias de velho" e a fez perceber também que a nossa relação é superior a qualquer dor e mesquinhez.

Na última tarde, criei forças do ventre de onde vim e juntamente com a minha velha recebi o papel que setenciaria os nossos próximos dias. Eu já sabia que ela teria muita coragem para desenrolar o papel, mas senti também que a vista cansada das coisas da vida percorreria arduamente todos os dizeres científicos até encontrar a única palavra que resumiria tudo. Por isso, eu mesma desembrulhei-o e vi, em letras garrafais, a palavra AUSÊNCIA.

Danei-me a chorar e li para ela: AUSÊNCIA. Por ironia, nunca uma ausência foi tão bem sentida como aquela. Pois sim...ausência de malignidade. Ela tá viva, com saúde...estamos vivas.

2 cousas:

Amigao disse...

Nossa!
Fiquei imaginando as mãos tremendo e ansiedade dominando as duas.Que alivio!
Seria tão bom se a gente morresse de velho e não de doenças, né?
E veja, Deus foi desafiado e mostrou mais uma vez o quanto Ele é Grande.Hora de agradecer né?

Beijão do amigão!

Luana! disse...

Sim, sim.
Deus é maior do que os nossos medos. Sou eternamente grata a Ele.

Bjoss