on domingo, 10 de agosto de 2008 | 11 cousas

Lá pelos idos do meu colegial, eu estudava o voto do cabresto como história mítica ou ultrapassada, visto que diante da revolução democrática se pressupunha que haveria luta contra as esmolas eleitorais. A minha compreensão ainda dispunha que essas esmolas fossem prioritárias de regimes oligárquicos dos estados nordestinos ou, quem sabe, de cidades do interior, condicionando uma redução da vergonha.

Alguns que leram este post sabem da minha história íntima e familiar com a politicagem. Atualmente, estou trabalhando diretamente na assessoria de imprensa de um candidato a prefeito daqui, como repórter. Não irei me alongar nas peculiaridades dos bastidores, embora um comentário acerca fosse interessante (talvez, o faça em outro post). O que me importa aqui é presenciar a realidade nua e crua do povo que não só prefere o assistencialismo, como vê nele a única saída.

Distante dos órgãos públicos, o povo vê nos candidatos uma forma de garantir algum benefício a curto prazo, já que a longo prazo não se tem esperança. Em todas as visitas do candidato aos bairros carentes de São Luís, em que tenho a honra em acompanhar, as pessoas o interpelam pedindo leite para as crianças, corte de cabelo, grana para a pinga ou para a areia que está faltando para concluir o piso na casa. A resposta do candidato é sempre direta: "não estamos fazendo caridade, estamos em campanha".

Os que a ouvem ficam desolados e afirmam que voto deles o tal candidato não terá. Bom, eu não sou boba de confirmar a honestidade do 'meu' candidato (ele que faça isso na gestão); talvez, em uma outra oportunidade, sem tantas testemunhas, ele desse a esmola, mas o intrigante é que, se ele realmente desse grana a cada eleitor pedinte, os recursos da sua candidatura seriam para estratégia assistencialista, da qual o povo já está acostumado e muito bem acostumado.

A esperança na mudança política, bem como em programas que, realmente, os retirem da dependência estatal não são a luz no fim do túnel. A pobreza os empurra desde já para um óculos, para uma camiseta, para um saco de areia, para a grana da passagem de ônibus, para o remédio caríssimo. A priori, eu pensava que a caridade, mal disfarçada em programas governamentais assistencialistas, fosse algo cultural do povo brasileiro que não queria se libertar da esmola. Mas convenhamos que o pai que tem um filho em casa chorando pelo leite e, de repente, vê um político andando na rua, correr até ele e trocar seu voto por um litro de leite não é cultura, mas sim desespero.

Para eles, cidadania, dignidade e honra é um prato de comida na mesa e não um voto pensado.

11 cousas:

Vinícius de R. Rodovalho disse...

Que texto, hein! Concordo plenamente! :)

Outro dia, quando comentei que não sabia ainda em quem votar, minha mãe me respondeu que o voto dela já estava decidido. Seria do vereador que a ajudara com projetos para portadores de deficiência, porque ele pedira.

Aprecio a atitude do vereador, mas convenhamos, é a lei! É a obrigação dele! É para isso que está lá. Se gostam ou não do trabalho dele, os eleitores que hão de decidir e votar por uma decisão própria, e não porque o vereador pediu.

Lula, igualmente. Gosto do trabalho dele, mas ele não pode posar de "Messias"!

Temos que reinventar nossas eleições.

Luana Diniz disse...

Viiiiiiii...

Saudades de ti, garoto!

disse...

Isso é verdade. Acho que consciência para votar, o Brasil só vai poder cobrar de seus eleitores no dia em que conseguir suprir as necessidades básicas do cidadão. Para que ele seja cidadão, com dignidade e civilidade.

Bjo

Di disse...

As pessoas podiam ir atrás quando os políticos já estão eleitos, afinal o bem estar do povo é obrigação dos que já estão eleitos. Eles trabalham pra nós, e são mais bem pagos até demais por isso.
Fico p. da vida de ver políticos falando do que realizaram como se tivessem feito um favor pra gente! =/

Nando Damázio disse...

Ai, meu Deus, que até eu queria falar(escrever) bonito assim.

Luquinha, eu sempre fui contra essa coisa da esmola, mas, analisando sob sua perspectiva, quem pensa assim não está sendo egoísta? Mas quem é egoísta, o cidadão que se nega a dar a esmola, ou a sociedade? Seria o egoísmo individual ou um mal universal?

Uma coisa é certa: Assistência Social não é caridade.

Pronto, é'vem você me fazer matutar á essa hora da madruga! ¬¬'

Luana Diniz disse...

Nandinho, sinceramente, eu não estou querendo justificar uma população refém do assistencialismo. Estou só querendo fazer compreender que, quando a fome/pobreza está em jogo, um voto não vale nada a curto prazo. Por isso, eu não condeno as pessoas que puxam os candidatos e trocam seus votos por qqr coisinha que lhe garanta a comida do dia. Isso é resultado também da desesperança do povo...isso é o que eu mais presencio: se as pessoas não estão pedindo objetos, grana ou comida, elas estão esbravejando que o tal candidato está ali apenas para conseguir voto, mas que esquecerá o povo quando for eleito. É...uma mudança a longo prazo, vai ser a longro prazo meeeeesmo e a criança que chora com fome não vai esperar anos para que os políticos que sujam nosso país saiam da pose e entrem governantes sérios e dignos.

Du disse...

Luca, tu nunca pensou em se candidatar, menina?
Com esse discurso, você teria meu voto muito fácil! \o/

Adorei essa consciência política que você tem! \o/

Beijão, lindona!

Amigao disse...

É dificil acreditar que um candidato tenha dito: "não estamos fazendo caridade, estamos em campanha".
Nas eleições de 2006 (foi isto?) eu pedi pra minha mãe não votar no Lulalá. Ela me respondeu que votaria sim. Afinal, quem é que daria pra ela o auxilio gás, bolsa escola, bolsa não sei o que,,,
fiquei quieto, ia responder o que?

Ou alguém acha que algum politico vai mudar alguma coisa mesmo de verdade?
Nas eleições para prefeito de 2004, tivemos que escolher aqui em São Paulo: Marta, Serra, Maluf,Alkimin e Paulinho da Força.
O povo escolheu o Serra que saiu pra ser governador.
Agora em 2008, teremos que escolher: Marta, Alkimin, Maluf e Paulinho da Força.
Percebe alguma diferença?
Ah, sim, tem a soninha, que é candidata.
Mas logo, logo, vai ter que renunciar pq uma vez deu uma entrevista dizendo que ja tinha fumado maconha.

Nando Damázio disse...

Perfeito, Luluca!

E, ó: apóio a idéia da Du! \o/

jubliana. disse...

A moça que trabalha aqui em casa ligou as trompas para não ter mais filhos. Só conseguiu porque um médico estava se candidatando e "ofereceu".

Agora me fala.. dá pra dizer que a moça tava errada em aceitar? Não tem como julgar certas coisas.

são muito complexas pra um post só. infelizmente. nao deveriam, mas sao.

Luana Diniz disse...

A Du e o Nando são dois eleitores sem-noção!

Dã! ¬¬'