on terça-feira, 6 de julho de 2010 | 0 cousas

A despeito das artes, nunca tentei nenhuma. Um dia já quis aprender a tocar algum instrumento musical, mas não foi adiante, pois me apeguei ao receio(!). Hoje me apego à arte do desapego. Quer arte mais difícil e ninja que essa?

Um franciscano ou um budista teriam respaldo verdadeiro para falar sobre ela, mas seria tangivelmente sobre a força de vontade de cada um (fé) e sobre as disposições de recusa e do não desejar. Ilustrativamente, declamaria o meu poeta Fernando Pessoa: "A renúncia é a libertação. Não querer é poder". O que se torna, a priori, repreensível por mim, visto que a minha arte é regida pelo apreendimento exclusivo do meu ego.

Já posso testemunhar que, sem dúvidas, essa arte declina a frustração porque me dou conta de que posso seguir sem ninguém, mesmo não estando sozinha. Em suma é dada a concretude ao: cada um por si e Deus por todos. E o fim de 'todos' não chega a doer, porque se pressupõe que ninguém ou nada fez parte dele. Em vias de regra, como qualquer arte, esta pode parecer mais uma teoria abstrata.

Mas vale pincelar a prática com pequenas resoluções, atos memoráveis, talvez grandes 'nãos' e, sobretudo, a certeza de que há outra maneira de fazer as coisas, sem sentir que abandonou algo. Passo a dever apenas a mim os tons mudos ou graves, os riscos marcantes e os cordéis menos rimados.

De pronto, já caminho mais solta, sem precisar me autoafirmar para os que me julgam.