on quinta-feira, 25 de março de 2010 | 0 cousas

Enquanto peregrino disputando pc e conexão com o sobrinho, a mãe se contenta numa sala nada distante com uma máquina de costurar. O que hoje é hobby para ela, ontem foi profissão e ganha pão. Já o pc para mim é esse ontem e hoje dela.

As gracices dos encontros de gerações param aí, porque no corredor de pit stop travamos embates entre um gole e outro de água e de descanso. É que a vida da geração dela é diferente da vida da minha geração. Pelo que ela conta, a violência não surgiu desde quando o mundo é mundo. Nasceu nas gerações após a dela. "Tudo é bem mais perigoso hoje em dia", revela a costureira.

Eu, a jornalista que não se conforma com tanta proteção - embora desconfie que será ipsis litteris com seus rebentos -, retruco num tom desesperador: "Mãe, essa vida não foi a que eu sonhei pra mim". Essa vida à qual eu me refiro na história toda é o conformismo de realizar um trabalho, o qual, apesar de eu ser habilitada para, não ME realiza enquanto profissional.

Para a geração da minha mãe, ou simplesmente para ela, o importante é estabilidade. E estabilidade é igual a: esquece a faculdade que você sonhou, cursou e vai fazer um concurso para qualquer área agora! Pós-graduação chega a ser desnecessária, se comparada. Viajar para conhecer o mundo uma grande perda de tempo. Para que morar em uma cidade cosmopolita, longe de suas asas, correndo o risco do desemprego e do desemparo? Não, não e não.

Contudo, eu quero sim. Quero fazer o êxodo rural, quero ser independente, quero morar em Sampa onde eu sonho morar desde antes de entrar na faculdade, quero encontrar o emprego que não tem na minha cidade e quero não me arrepender de chegar até onde cheguei. É isso!

Pois onde cheguei não é nada, apesar de para ela já ser quase tudo. Estou prestes a completar 25 anos, o que na geração da minha mãe é o início de um vidão. Mas para a minha geração, que nem tem tempo de degustar o tempo, 25 anos são a carga de 50 anos (vividos ou não). Eu gostaria de estar sendo hiperbólica, mas é a realidade que se/me apresenta.

Sem falar que o sucesso que eu fazia até os 17 anos, porque eu era a melhor entre os cem na escola, deixou de ser sucesso porque, no mercado profissional, o número de concorrentes ''zilhomplicou'' e a qualidade afunilou. E se eu não correr para me realizar, estarei deixando a minha geração se tornar a geração da mamãe: descompassada, ultrapassada e esnobada.