on terça-feira, 18 de agosto de 2009 | 6 cousas
"Tudo o que é leve o vento leva, eu quero aprender um jeito de reinventar certeza ou tristeza"
[Ceumar]

Desde domingo, quando assisti ao filme "A Insustentável Leveza do Ser", inspirada na obra literária homônima de Milan Kundera, identifiquei na logicidade do personagem principal da película um personagem peculiar que passou há quase dois anos em minha vida. Da mesma forma que o Thomas [figura do romance de Kundera] vagava entre todas as relações humanas e sociais descompromissadamente, o homem que passou em minha vida há um certo tempo não hesitou em largá-la às desimportâncias da sua própria vida.

Era um homem abastado de filosofia, de sabedoria, de arte e, principalmente, de leveza. Duma leveza que ora me incomodava, ora eu invejava. Por vezes, eu desejei com todas as minhas forças ser que nem ele, deixar de ter pensamentos e frases clichês de consolo e ser mais enfática comigo e com a vida. Cheguei mesmo a ser uma aprendiz a curtíssimos traços e a acreditar que eu não devesse mais insistir em minha farsa de menina mimada.

Embora nos adorássemos com respeito, sabíamos que mantínhamos uma relação perigosa, portanto um pacto silencioso se instalou entre nós. Sem formalidades, nada parecia ser tão bom quanto o que sentíamos um pelo outro. Não era relacionamento amoroso, não era intimidade, era cumplicidade viva. Se de todos os que me rodeiam, eu faço questão de sugar o máximo para o meu crescimento, ele era quem fazia questão de injetar em mim todo o crescimento possível. Era um acordo selado e cumprido parceladamente. Ele era [é] indescritívelmente importante.

A mim coube o outro traço da dualidade: a dureza; que culminou em um afastamento repentino. Mesmo tempos passados desde a última vez que nos falamos amável e cordialmente, ainda acredito que a culpada do término antecipado da lição tenha sido eu. Apressei meus passos e cedi à ansiedade da paixão. Eu sentia necessidade da concretude, não apostava nos "vamos ver o que vai dar". Eu precisava arrastá-lo para tomar um café comigo e ouvi-lo pessoalmente falar sobre literatura e filosofia. Eu precisava pessoalmente decepcioná-lo com as minhas coisas de menina mimada e ouvi-lo me aconselhando a "arcar com as consequências das minhas escolhas". Eu precisava me sentir protegida dentro de um abraço dele.

Ele era contente e paciente com os rumos que seguiam a nossa perigosa relação. E, ao passo que isso contrariava todos os meus sonhos, eu adorava essa sobriedade dele. Era uma sobriedade que não me machucava, que eu não compreendia muito bem. A única a me machucar era eu mesma. Ninguém, fora nós dois, nunca entendeu o porquê do nosso "afastamento". Enquanto ele foi bastante fiel a tudo o que ele sempre pregou a mim - 'fidelidade ao que é dito', 'cuidado com o que se deseja' -, eu amarguei tentativas de voltar atrás.

Em quase um ano eu não pensei em me arrepender pelo "afastamento", assim como não me arrependi por voltar a procurá-lo. Poucos progressos foram feitos até o dia de hoje...em que enviei uma mensagem dizendo que ainda pensava e sentia saudades dele, ao que ele respondeu - inesperadamente por mim - qualquer coisa engraçada aceitando conversar comigo. Uma parede foi quebrada...não será reconstruída sob o mesmo feitio. Estou muito sem-graça pela conversa. Não saberei o que dizer e se, em qualquer palavrá que eu proferir, ele sentirá que eu não aprendi devidamente as coisas que ele ensinou. Estou nervosa, mas contente e leve.

6 cousas:

Anônimo disse...

uau!
Para com esse texto, eim.
E se algum dia eu for boa conselheira, imprime a página e leve-a ao encontro. As coisas ficarão mais fáceis e se tudo der errado, vocês ainda vão rir. Eaí o dia já valeu a pena!
haushausa.

A propósito: Sim, estou gostando de lá. Daquele jeito, devagar.. ;)

Polyana Amorim disse...

é, pois é...

Anônimo disse...

O filme também ainda me faz refletir sobre muitas outras questões humanas que ponderamos entre o peso e a leveza. Em cada uma delas, sempre busco temperar com um humor porque a vida de verdade, muito séria, é mesmo pesada.

E desconfio que essa seja a intenção de Kundera na maioria dos seus livros: experimentar o humor e o sorriso em questões que são muito pesadas.

Sobre a pessoa em questão, e porque também desconfio que ela seja espectro, personagem, perfil e não um corpo, vou esperar para ler o próximo texto com os detalhes que tu desconhece dele: seu cheiro, tique nervoso, mania e, principalmente, o sorriso.

Eu quase que fico com ciúmes...

Anônimo disse...

Desde ontem eu venho aqui, leio seu post e quando vou comentar fico travada... Esse final de semana preciso assistir o filme que consegue mexer com todos esses sentidos!!
Beijos, lindona!!
Amo tu!!

Amigao disse...

Pois é...

Dulce Miller disse...

Putz... um dia eu ainda quero escrever assim, sabia? Menina, fiquei arrepiada com a intensidade das palavras...
Lindo, humanamente real...
Boa sorte aí...