on sábado, 26 de julho de 2008 | 13 cousas

Como você se sente sendo analisado por outra pessoa? Como um corpo no necrotério escarafunchado por um cara que não toca a tua alma? Como um rato, em que o cientista vai usar e abusar até comprovar que a sua descoberta tem fundamentos? Ou como um pavão de passadas elegantes, que angula seu peitoril a 90º graus e finge que não está nem aí para nada?

Eu, sinceramente, sou uma curiosa das análises de outrens e não costumo me fazer de rogada, jurando que aquilo que o outro acha de mim não vá influenciar nas minhas possíveis nóias. O que me toca do outro é ele não pensar tão somente sobre tudo, sobre Dostoiévski, sobre a condição púrpura da existência, sobre a política estrangeira, mas também sobre mim. Eu juro! Sou um bom assunto! Além de confessadamente tímida e chata, eu sou chata! E o chatismo das pessoas é sempre um ótimo motivo para dar pitaco, senão críticas.

Um exemplo... Outro dia, eu estava numa mesa de casais que 'não se comem' e, enquanto eu conversava sobre assuntos de meninas com a minha amiga, os dois rapazes falavam sobre qualquer coisa, que não era futebol, até chegar aos meus ouvidos: "Quando eu conheci a Luca...". Prontamente, eu me virei e ele me vendo atenta à sua explanação, prosseguiu: "...estávamos num congresso. Ela era uma pessoa simpática e ríamos juntos. Quando voltamos a nos encontrar, ela falava apenas 'oi' e papo mesmo ela batia com um outro amigo. Com o tempo, nem 'oi' ela me dava mais, porém gargalhava com o tal outro amigo. Comecei a achá-la muito chata! Um pouco mais tarde, quando trabalhamos juntos na rádio, eu passei a amá-la."

Pelo tanto que o conheço, eu sabia que um dia ele esfregaria a minha antipatia em minha cara. Sendo que somos amigos há mais de um ano, achei que ele demorou muito tempo a fazer tal consideração, para a pessoa sincera e nada convencional que ele é. Mas, embora já previsse que isso fosse acontecer mais cedo ou mais tarde, eu sempre me surpreendo com as contravenções da identidade alheia. Na cabeça dele, eu era metida e antipática, enquanto eu só não tinha nada para tratar com ele e não me importava em fazer a social, só porque troquei algumas palavras um dia com ele.

Interessante como as pessoas constroem a identidade da outra, baseada em momentos isolados, em espasmos sentimentais, em expressões faciais ligeiras... em achismos, num confronto entre o real e o invisível. Ficamos entre aquilo que mostramos umas às outras e aquilo que fica escondido em nossas mentes e tentamos (ou não), sem tanto sucesso, transmitir.

Assim, fico pensando: existiria uma identidade falsa e outra real? E...seria eu chata e metida mesmo?

13 cousas:

Gustavo Scussel disse...

Luca, Luca, Luca! Quando é você tratando assuntos sérios, devo dizer que eles soam muito melhor aqui do que na mera discussão do MSN, rodeada de possibilidades e conclusões antecipadas para, enfim, aqui se tornar uma idéia concreta muito melhor aproveitada e imaginada. Fantástico esse texto! Mais ainda por ser uma coisa que todo mundo um dia já parou para pensar: a aparência de si próprio para os outros e a dos outros para você.

Quando parei para pensar nisso pela primeira vez, enrolei a mim mesmo dizendo que não me importava. Antes me importava, hoje não mais. De qualquer maneira, sempre carreguei comigo a idéia central dessa citação e, foi graças à ela, que há muito não me decepciono com nenhuma pessoa.

"Quando duas pessoas se encontram há, na verdade, seis pessoas presentes: cada pessoa como se vê a si mesma, cada pessoa como a outra a vê e cada pessoa como realmente é." - William James.

Nando Damázio disse...

Mas não ser nem um pouquinho chato é muito chato !! Quem é legal, descolado, alto-astral e simpático o tempo todo, 24 horas, em todos os momentos da vida ?? Eu não sou e garanto que você também não é, porque posso afirmar com a convicção de um Quevedo que isso não ecziste !!

Prefiro ser assim mesmo, de fases, inconstante e imprevisível, nada de padrões e rótulos prontinhos, tipo: "carinha legal" ou "carinha enjoado" .. Posso estar super alegre à noite com os amigos e super sociável, mas no dia seguinte acordo de ovo virado, a pessoa mais chata do mundo !!

Ah, divago, divago, mas assumo: tudo o que falam de mim me interessa !!

Luquinha, você é mesmo um ótimo assunto e a maneira como você externa pensamentos sempre me deixa com a sensação de ter me roubado as palavras que eu não soube usar !!

Ju Pietra disse...

Ao observar o modo de ser das outras pessoas, comecei a me perguntar de que forma elas me tocavam... É bem isso que vc falou, Luquinha, o modo como as identidades são formadas...
Ser legal ou enjoada acaba sendo meramente um detalhe. Depende muito da convivência que a gente tem com quem vê.
Talvez não sejam identidades falsas ou reais... Seriam relacionamentos profundos ou nem tanto.
Sdd de ti, chata. (Risos)
Beijo, Ju.

PS: Tá, eu fui ler aquele post dos cheiros e os comentários dos blogs em que passei depois se tornaram "olfatórios"... Ê, coisa viu??

♪ Lorena disse...

acho que na verdade nunca conhecemos a n´s mesmos totalmente. Eu por exemplo, tenho algumas atitudes às vezes que me surpreendem. E vejo que outras pessoas têm uma imagem de mim que nem sei de onde vem. no fim, somos um misto do que sabemos que somos, do que não sabemos, e do que os outros acham que somos.

ih, me perdi agora.

adorei a casa nova! tô vendo outros lays pro meu blog, achei aquele meio babacosa :P

beijos!

Alberto Júnior disse...

Concordo com Gustavo e incluo a outra personalidade que é aquela que queremos que o outro seja.

Talvez esse seja o grande barato e que faz com que una duas pessoas por diversos sentimentos: a inconstância.

Ela desperta o entusiasmo de conhecer uma nova pessoa a cada encontro a mesma.

E é claro que eu não ia perder a oportunidade de me promover assim como os outros comentaristas que falaram de si em vez de falar especificamente do teu texto.

Só para lembrar...

http://raladosnanet.blogspot.com/2007/06/espelho-espelho-meu.html

Depois, vou mandar umas sugestão de pauta para teu novo blog e que tem tudo a ver com o título, péra!

Di disse...

Bom, existem dois seres em nós, o que acreditamos que somos e o que os outros acreditam que somos.

E a maioria disso é, como você disse, baseada em momentos isolados, em espasmos sentimentais, em expressões faciais ligeiras... em achismos.

Estava Perdida no Mar disse...

Acho muito curioso tb saber/ouvir o que falam de nós, para nós e para os outros. Quem diz que não se influencia por isso deve estar mentindo. Com certeza. E realmente, há dois seres em nós. Ops, acho que três: aquele que acreditamos que somos, aqueles que os outros acham que somos, e o que realmente somos.

Ah, vc é jornalista, né? Coincidência boa.
Beijos

Ju Pietra disse...

Verdade, eu passei lá na Di e li o texto... Parece que estavamos sintonizadas...

É isso, vamos juntas sim... Porque amizade boa é a melhor coisa do mundo ne??

Obrigada pela tua amizade.
Beijo
Ju

Di disse...

Amei o texto da Ju!!!
Obrigada pela cia. :)

DrummerChick disse...

Own, minina, ninguém é o que é o tempo todo. Todo mundo tem seus espinhos e se todo mundo andasse armado com eles sempre ninguém se relacionava! Tô mintinu? Por isso eu não digo uma falsa e outra real, eu diria uma para "clientes costumeiros" (aqueles amigos que vão e vêm) e uma para clientes que fazem investimentos mais contundentes, se é que vc me entende! (aqueles amigos que investem tempo e amor na gente o suficiente para confiarmos neles e nos abrirmos por inteiro)

Ei, seu broquinho tá lá no blogroll já, viu? Falha consertada!

Luana Diniz disse...

Pessoinhas, brigada pela visita, pelos coments, pelos elogios (hen hei, Gu e Nandinho!) e pelo carinho.

Tô correndo e nem dá para responder de um a um. Em todo caso, eu faço uma identidade legal de vcs. xD

Beijoooooos em todos

Polyana Amorim disse...

vim pra dizer que tu é chata, histérica e eu te amo!

Luana Diniz disse...

ôxi! eu te amo tanto...e mais e mais...q dói não te ter sempre por perto...ai ai (suspiro)