on domingo, 29 de junho de 2008 | 2 cousas
Em tempos de criança, eu corria livremente pelos corredores da Câmara Municipal da cidade. A minha mãe era telefonista da casa e mantinha proveitosas relações de amizade com os vereadores. A Câmara parecia a 'casa da mãe Joana', de tão próximas e bem humoradas que as pessoas eram. Eu sempre ouvia os causos sobre os políticos conhecidos de mamãe, com extrema atenção. Ela dizia que entendia bastante de política e, por mim, tava valendo.

Com o passar dos anos, a dança das cadeiras fez desaparecer célebres personagens dos causos e mamãe começou a reclamar que a instituição não parecia mais a mesma. E, de fato, não era. As 'novas caras' que adentraram a Câmara verticalizaram as relações: 'cada um no seu quadrado'. Mamãe se aposentou, mesmo assim, garantiu o lugar da minha irmã. Era certo que meus irmãos também teriam seus lugares, através das 'proveitosas amizades', mas graças a Deus cada um tomou seu rumo e apenas a minha irmã permanece lá até hoje.

Fui crescendo e compreendendo que a imagem que mamãe fazia do órgão público era muito apaixonada. Já a minha irmã sempre fez questão de rir da pasmaceira do local. No dia-a-dia, ela comenta sobre as sessões e reuniões plenárias protocolares. Grande parte dos vereadores é ausente e só aparecem em massa, caso um deles queira fazer um marketing básico, com alguma outra instituição, homenageando-a. Então, o anfitrião entra em contato com toda a 'corriola' e faz a Câmara transpirar ares de repartição pública séria.

Há pouco mais de um mês, retornei à Câmara, após uns bons anos sem visitá-la. Reconheci os corredores áridos de outrora, bem como as salas com mofo no forro do teto. O pátio tinha poucos carros e os raros funcionários batiam papo no hall. A sessão plenária do dia estava suspensa, em função da viagem do presidente da instituição a um interior do estado.

Decepcionante? Bobagem! Esse não é um cenário unicamente local; ele pode ser sim habitualmente estadual e nacional. Reflexo da politicagem! Distante dos interessantes causos contados e comemorados por minha mãe, política não é coisa de político. Embora instituições defasadas do poder e meios midiáticos estabeleçam que política é o debate que permeia a ágora dos órgãos políticos, devemos compreender que ela começa em casa e na postura individual. Eu detesto politicagem, principalmente de saber e discutir sobre ela, mas sou naturalmente política.

Relembro tudo isso, agora, porque ontem fiquei um tanto intrigada com o discurso inflamado de um eleitor, durante uma convenção partidária. Eu participava do evento, pela assessoria de imprensa do político que teve a sua candidatura a prefeito da cidade homologada. Pessoas importantes do clã político predominante no estado (leia-se: Sarneystas) apoiavam a candidatura. Entre uma disputa de palanque e outra, o curioso eleitor levantou-se e pediu a palavra. Esta concedida, ele se pôs a chorar e disse: "Estou me sentindo muito triste, porque desde as eleições para o governo estadual, perdemos Roseana Sarney. Todo mundo alega que o sarneysmo nunca fez nada pelo nosso estado, mas e os elevados? Nosso estado está muito pior do que poderia estar, caso Roseana tivesse sido eleita."

Aplausos calorosos seguiram o discurso. Confesso que tive grande vontade de gargalhar do circo. Eu sempre imaginei que os 'fãs' do sarneysmo fossem míticos. Ou, então, que só gostassem da tal família exatamente os políticos que tivessem interesses comuns. Maassss... como assim 'e os elevados'??? Pois é! O eleitor choroso, a minha mãe e boa parte da população entende de politicagem. E, por essas e outras, que eu não discuto política.

2 cousas:

Natália disse...

O mundo tá dum jeito que todo mundo acaba confundindo política com POLÍTICOS. E deles é impossível mesmo gostar.

Polyana Amorim disse...

'E, por essas e outras, que eu não discuto política.'

assino embaixo!