on domingo, 20 de setembro de 2009 | 4 cousas
Caríssima,

Há três dias, te vi sentada na calçada de frente para o mar e de costas para os corredores suados como se estivesse tentando dormir no embalo das ondas do mar. Era fim de tarde e as águas, embora distantes dos teus pés, estavam se aproximando da orla. O dia caía, e o movimento dos corredores era acrescentado pelos movimentos de carros, e de grupos e de casais em direção aos quiosques ou a lugar nenhum.

Você permaneceu imóvel por largo tempo, enquanto isso, eu trocava de copos e de bebidas, ria dando um olhar de "olá" para algumas pessoas que novamente passavam por mim achando-me mais misteriosa que você. Talvez, porque eu estivesse te olhando e você apenas olhando o mar. Ou já dormindo, como bem queria. Eu não entendi isso.

Eu já estava cansando de esperar que você levantasse e já me preparava para te deixar mais só, porém você levantou dali antes de mim. Espreguiçou-se como se tivesse acordado, ensaiou uma brincadeira com os pés na areia, mas não se atreveu a molhar os pés no mar. Fiquei mais curiosa ainda, pois para você é um ritual indispensável dar pulinhos no mar. Eu até estava com muita vontade de te acompanhar nos pulinhos e ter mais sorte na vida.

Mas acho que você já está desacreditando da sorte, não é?! Senti isso, há mais dias - antes de te encontrar olhando para o mar, conversando com um amigo seu. Ele falava normalmente até eu perguntar por você. Ele me disse desesperançado que você estava se perdendo de si mesma, que não estava conseguindo renovar seus sonhos e redesenhar seus planos. Você estava sendo levada pela vida, assim como as estrelinhas são levadas pelo mar. Será que isso é destino? Você acredita em destino? Você acredita que pode parar e esperar a vida acontecer sem se levantar e dar uns pulinhos no mar?

Estou escrevendo esta carta para ti em sinal da minha preocupação. Preocupa-me bastante essa tua não-vontade de viver. Porque, sinceramente, se acreditares em destino, fico feliz em te informar que ele não é imutável. Você bem que poderia levantar às vezes da calçada e dar os pulinhos no mar. Não é questão de sorte, é questão de não esperar...é questão de sentir e de viver.

Te envio, em anexo desta carta, a minha esperança e a minha fé. Fé de ainda ver renascer a menina que pula ondas.

Beijos na palma da mão,

Eu!

4 cousas:

Anônimo disse...

Obrigada pela carta!
Guardei dentro de mim....

Beijos

Dulce Miller disse...

Menina de alma tão bonita... me faz tão bem te ler...

Anônimo disse...

Hmmm, pensei que tinha deixado de escrever teus textos mais bonitos.

Amigao disse...

Carissima
É uma bela e uma carta espero que guarde consigo todos os ensinamentos que ela contem e mais ainda, que ponha em pratica este desejo e te ver pulando ondas.
Tem razão, o destino é mutavel.

Beijão do amigão