on domingo, 4 de novembro de 2007 | 2 cousas
Já velho, ele tem beleza. Que seria a beleza dele na velhice? As rugas seguram as suas emoções num vão rasgado de suas lembranças. Sua boca de hálito mal cheiroso perfumam as histórias catacumbadas. A sua fala, acesa pela ansiedade, é apagada circunstancialmente pela emoção de ser contador. Sim, sim. O seu ofício a esta altura é ser contador de histórias fiadas por outras histórias entrecortadas num riso cândido de uma criança eterna. A sua mão de palma áspera pega a gola da camisa surrada, que encobre a camada empretecida pelo tempo, e a passa sobre os cantos dos olhos que enternecem vagarosas lágrimas de uma alegria. Uma alegria afagada pela sapiência moldada a versos e sacrifícios. As lágrimas não chegam a formar um rio de choro palpável, somente amaciam a pele amassada.

Enquanto eu conversava com ele, me senti na estranha obrigação de oferecer uma atenção gentil. Mas eu conseguia olhar para ele sem a sentida piedade de sua existência à beira do fim. Fiquei dividida entre a atenção dispensada para que ele se sentisse vivo, o pensamento sobre o seu verdadeiro sentimento de morte e o medo de chegar àquela idade. Que ingenuidade e prepotência a minha! Ele se sentia mais vivo e satisfeito do que eu, no meu momento de medos e perspectivas.

Ele tem em si a certeza de ter vivido. Certamente, não como houvera desejado quando tinha a minha idade, mas como pode e lutou para viver e também com a festiva certeza de que quando a morte acenar, a tristeza não terá vez, nem a saudade. Ele já cumpriu a sua missão de viver.

Já eu...penso toda hora em fica triste e cada tristeza parece a morte. E essa morte é o fim de uma vida que ainda nem aconteceu.

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2 cousas:

Alberto Júnior disse...

A experiência e a tradição de uma história de vida deve ser repensada por nós "jovens" como valores tão grandes quanto os de caráter e os "monetários".

Saibamos olhar para trás e ter atenção para quem só quer a atenção de dividir um pouco tempo.

Ser velho não deve ser encarado como algo feio e/ou inútil. Tudo que somos funciona como um ciclo e absorção de toda a herança cultural e genética daqueles que nos puseram no mundo.

Saber reconhecer isso é nobre e maduro.

E você sabe fazer isso bem!

Dementador disse...

Olá, parabens esse é o primeiro blog decente ki vejo no blogspot
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te fiz um convite no orkut, aceite, por favor!